
Expectativas são altas, mas divergências internas podem trazer desafios inesperados para a administração de Trump.
Donald Trump sempre foi um mestre do espetáculo, surpreendendo o público com suas atitudes. Agora, de volta à Casa Branca, o mundo aguarda para ver se a versão “Trump 2.0” será mais disciplinada e eficaz do que a primeira, marcada por controvérsias e caos.
A maior diferença entre o início de seu primeiro mandato, oito anos atrás, e a atual administração é a confiança demonstrada por Trump. Pessoas próximas a ele confirmam que a autoconfiança é inegável. O Partido Republicano está alinhado, empresários contribuem para sua posse, e sua oposição parece desorganizada e silenciosa.
Embora a eleição tenha sido apertada, os apoiadores de Trump parecem ignorar essa realidade, focando no retorno triunfante da agenda “Maga” (Make America Great Again). Para seus seguidores, as mudanças que Trump promete — desde deportações em massa até o fim da cidadania por nascimento — são tidas como necessárias para reverter os rumos do país.
A equipe de Trump na Casa Branca reflete uma abordagem mais audaciosa. Ao contrário do passado, quando o presidente parecia respeitar as hierarquias do establishment, ele agora escolhe figuras fora do convencional para posições chave. Um exemplo claro disso é a nomeação do secretário de Defesa. Em 2016, Trump optou por Jim Mattis, um general respeitado, mas em 2024, sua escolha é Pete Hegseth, um apresentador de TV com pouca experiência política e um histórico controverso.
A decisão de manter Hegseth no cargo, mesmo diante de escândalos, sinaliza um teste para os legisladores republicanos: até onde eles se submeterão a Trump? Até o momento, não houve resistência significativa.
No entanto, essa abordagem impetuosa pode gerar turbulências internas. A diversidade de visões em seu gabinete é surpreendente, com nomes como Robert F. Kennedy Jr., defensor dos direitos reprodutivos, ocupando a área de saúde, enquanto outros membros do partido defendem restrições ao aborto. Essa mistura de ideias pode resultar em conflitos, especialmente em questões cruciais como segurança nacional e política externa.
Por exemplo, a nomeação de Marco Rubio para secretário de Estado e de Tulsi Gabbard para diretora de inteligência nacional reflete essas divisões. Enquanto Rubio segue uma linha agressiva contra potências como a Rússia, Gabbard tem sido mais simpática a regimes adversários dos EUA.
Aliados de Trump argumentam que essa diversidade é uma força, dizendo que ela sacudirá um sistema político estagnado. Comparando Trump a Abraham Lincoln, que também cercou-se de rivais, alguns veem nisso uma estratégia para impulsionar mudanças profundas.
Porém, os desafios dessa abordagem podem ser grandes. Com um governo marcado por disputas internas e visões conflitantes, é possível que o trabalho de coordenação se torne ainda mais difícil, resultando em vazamentos e ineficiência. Para analistas, a falta de coesão pode prejudicar áreas sensíveis, como as políticas relacionadas à China.
Apesar de seu domínio atual, Trump sabe que o futuro será desafiador. As eleições legislativas de meio de mandato estão a apenas dois anos de distância, e com elas vem o risco de perda de poder. Embora Trump continue a ser uma figura influente, o jogo político pode mudar rapidamente, com novas figuras se destacando no cenário.